Bruno Quintella (filho de Tim Lopes)

Foto de Alexandre Maciel

Por Felipe Germano (2º Ano/Mackenzie), Roberto Bueno (2º Ano/Metodista) e Tamiris Gomes (2º Ano/Cruzeiro do Sul)

Na manhã desta sexta-feira (13/07), o 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo prestou homenagem ao jornalista Tim Lopes, assassinado em 2002, durante uma reportagem sobre o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Representando seu pai, o jornalista e produtor da TV Globo, Bruno Quintella, fez parte da mesa. Além dele, a sessão solene também contemplou o consagrado jornalista Janio de Freitas, colunista e membro do conselho editorial da Folha de S.Paulo.

Qual a importância da homenagem feita pela Abraji ao jornalista Tim Lopes?

São dez anos. Em dez anos a gente sempre reavalia a morte. Eu como filho, sempre penso na saudade e tudo mais. Inclusive, um dos motivos da criação da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) foi a morte do meu pai. Essa homenagem relembra e reforça justamente essa questão da segurança para o jornalista. Eu sou jornalista há oito anos e, na verdade, temos que aprender – principalmente os que estão começando – a valorizar a nós mesmos e saber o nosso limite.

Diante disso, qual é o aprendizado em que os novos jornalistas precisam se atentar?

Você deve saber como fazer uma matéria arriscada. Deve estar ciente do risco que está correndo e ter um diálogo aberto com a chefia. Essa responsabilidade tem que ser dividida sim, entre a direção da empresa jornalística e o profissional. Você tem que saber avaliar também. Acho que se eu pudesse – quem sou eu – dar um conselho para quem está começando, o mais importante é avaliar quando ir e quando não ir. Há diversas maneiras de cobrir sem se arriscar. Essa é a lição que fica. Uma frase do Gandhi que eu acho muito bacana é: “a coragem não é a ausência do medo”. A gente tem que ser corajoso, mas também deve temer e saber o limite do bom senso.

O público presente na homenagem te impressionou? A quantidade de jovens…

Eu vim em 2010 e hoje tem muito mais gente no Congresso. Acho bacana esse interesse pela profissão, mesmo que tenha tido uma morte há 10 anos, na tentativa de calar a imprensa, a garotada de hoje não se intimida.

Como é o seu dia-a-dia no trabalho?

Eu trabalho na Globo, estou licenciado a um ano e meio para fazer o documentário sobre o meu pai. Sou produtor de reportagem, usamos o termo “produtor do dia”, aquele produtor que fica dentro da redação, coordenando o que é ao vivo, é o braço direito do editor-chefe, pega uma nota ali, derruba uma matéria aqui. É meio que um “faz-tudo”, um “executivão” da produção.

Uma história interessante é que certa vez eu estava coordenando ao vivo quando aconteceu a invasão do Alemão [em 2010 no Rio de Janeiro]. Foi uma coincidência porque eu estava “emprestado” para o Carnaval e neste dia não teve expediente, as matérias foram todas derrubadas, as gravações e edições. Todos foram realocados para as funções de origem. Era uma quinta-feira, estava sentado, e de repente, o cinegrafista diz “olha lá! Fuga! Fuga!”, todos os caras fogem correndo. Aquela tensão ali, sabiam quem eu era. Avaliei a minha posição de filho e profissional. Fiquei feliz com a nossa cobertura.

Ainda hoje teremos um painel com trechos do documentário “Histórias de Arcanjo – Um documentário sobre Tim Lopes”? O que o público pode esperar dele?

Tim Lopes, meu pai, ficou conhecido pelo grande público por conta da sua morte. Meu nome é Bruno Quintella do Nascimento, o nome do meu pai era Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento. Eu peguei o nome da minha mãe, assim como ele. Na faculdade de jornalismo, as pessoas não sabiam, até pelo nome, quem eu era. Eu ouvia as pessoas dizerem “não, Tim Lopes deu mole”, e na verdade comecei a entender que o Tim Lopes era “o repórter da TV Globo que morreu na Vila Cruzeiro”. Ele ficou marcado por isso, mas ele tem uma carreira muito maior. Morreu com 50 anos, dos quais 20 foram dedicados ao jornalismo. Trabalhou em jornais impressos, duas passagens pelo Jornal do Brasil, duas passagens pelo jornal O Globo, além de Folha de S.Paulo, revistas como a IstoÉ, Veja, Placar. Esse foi o profissional que o permitiu chegar à TV Globo. A emissora foi somente um capítulo na história dele, tem muitos capítulos anteriores tão importantes quanto. É um documentário sobre a vida dele. É disso que queremos falar.

Tem uma data de estreia para o filme?

A previsão é para dezembro deste ano. Será lançado em festivais. A ideia é uma homenagem e não um filme comercial. Será a história de um filho falando do pai.

Coincidentemente, Tim Lopes chegou a trabalhar em alguma época com Janio de Freitas?

Não sei exatamente. Meu pai falava muito dele. Mas, não tenho certeza se chegaram a trabalhar juntos. Eu o conheci pessoalmente hoje, uma honra. Fiquei super feliz. Tem um samba do Nelson Cavaquinho que diz: “tem que dar flor em vida”, o que retrata essa homenagem. O Janio deve estar muito feliz em chegar aos 80 anos e uma garotada, que nem pensava em nascer, hoje aqui o aplaudindo e ciente da importância do trabalho dele.

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Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré, Open Society Foundations, Pand Books, Propeg, Textual e UNESCO.

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