Foto: Rodrigo Gomes
Por Barbara Gomes (3º ano / FIAM-FAAM)
Que o Boca Juniors é o clube mais famoso da Argentina, a maioria dos brasileiros já sabe, mas a repercussão política e policial que tem naquele país é imensurável. O jornalista Gustavo Grabia, que atua na cobertura da violência e torcidas organizadas no jornal argentino Olé, comenta que chefes de torcida e integrantes da torcida La Doce (a 12), mais conhecida como “barra-brava”, são seguranças e até pessoas de confianças de governadores e outros políticos do país. Impune aos olhos da segurança argentina, a torcida movimenta o comércio ilegal de drogas, camisetas não oficiais do Boca, ingressos para os jogos em torno do estádio em dias de partida, e faturam o dinheiro que sustentam a organização daquela torcida.
Gustavo Grabia, editor do diário argentino Olé, lançou no Brasil o livro La Doce – A explosiva história da torcida organizada mais temida do mundo (Panda Books), em que conta a história da torcida organizada do Boca Juniors, conhecida por práticas criminosas e relações de promiscuidade com políticos.
Confira entrevista de Grabia por ocasião do lançamento do livro na Argentina, em 2009.
Para evitar as conhecidas brigas dentro do estádio, em dia de mando de jogo se permite a entrada apenas da torcida local, e, em casos isolados, no máximo 2.500 visitantes. “Houve casos em que a exigência de suporte policial deveria ser de 2.000 militares e o governo liberava apenas 1.000”, afirmou Grabia. A junção política com a torcida dos barras-bravas tem tanta força que uma ONG foi criada entre as duas partes para que o dinheiro pudesse ser transferido, para ambas as partes, de forma aparentemente legal.
Explode a violência num Gre-Nal
A união das torcidas, não somente em torno da paixão pelo futebol, também foi investigada pelo jornalista gaúcho Fábio Almeida. As torcidas apontadas na reportagem são a do Internacional e do Grêmio. Os torcedores dos times gaúchos seguem um modo de organização parecido de organização das barras-bravas. Cantam, levam faixas ao estádio e causam problemas à sociedade da mesma forma. Um caso emblemático, que foi o início do interesse do jornalista da RBS TV pela investigação da violência destas torcidas, foi o da queima de banheiros químicos em um jogo entre Internacional e Grêmio, no ano de 2006.
A instalação destes banheiros no estádio, decorados com as cores branca e azul, que fazem parte da bandeira do Grêmio causou a revolta da torcida, pois foi considerado uma afronta para que os torcedores não utilizassem o sanitário do time colorado. A revolta foi geral e a polícia teve muito trabalho para contê-la.
Confira o vídeo clicando aqui.
As investigações e a produção das matérias duraram cinco meses. Fabio e sua equipe viajaram com as torcidas dos dois times, entrevistaram seus integrantes e pessoas que foram vítimas dos atos de vandalismo provocados por elas. Em uma de suas entrevistas, o jornalista perguntou a um torcedor como era o batismo para ser aceito no grupo. Primeiro ele tinha que passar por um corredor, mais conhecido como corredor polonês, onde apanhava dos integrantes da torcida. Após a surra, era obrigado a utilizar algum tipo de droga e, assim que passassem por um posto de gasolina, realizar um assalto. Caso negasse, ele mesmo seria roubado.
As pesquisas também foram feitas por meio da internet, no Orkut, que era a rede social mais utilizada no momento, e através do depoimento de psiquiatras, psicólogos, sociólogos e outros especialistas. Uma das teorias abordadas sobre o tema é de uma espécie de “bola de neve, quando o primeiro torcedor desfere um soco em outro, o próximo vem e assim sucessivamente. Quando questionados sobre o ato, dizem, espantados: “mas só foi um soco, isso não mata ninguém!”. As comunidades das torcidas no Orkut foram observadas e através delas descobriu-se algumas obsessões, como as brigas nos estádios e a marcação de encontros dos torcedores.
A equipe de Fábio Almeida já foi convidada pelo governo gaúcho, para promover uma palestra sobre os dados da sua pesquisa e desta forma ajudar no combate aos delitos destes grupos.
Torcidas Organizadas
Palestrantes: Gustavo Grabia e Fábio Almeida
Data: 14/07/12 – 14h
Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré, Open Society Foundations, Panda Books, Propeg, Textual e UNESCO.