Foto: Leandro Melito
Por Rute Pina (PUC-SP/ 2ºano)
A dificuldade de fugir da pasteurização e do lugar comum, quando artistas estão cada vez mais aparelhados de assessorias, como evitar que os cadernos de cultura do país se tornem meras agendas culturais, foram temas debatidos por Thales de Menezes e Ubiratan Brasil, editores da Ilustrada (Folha de S. Paulo) e do Caderno 2 (O Estado de S. Paulo), respectivamente, durante o 7º Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji, em mesa mediada por Claudio Tognolli.
Nas palavras de Ubiratan, “as assessorias de imprensa estão cada vez mais audaciosas” e impõe amarras à publicação das informações. Ele relatou que há editoras de livros, por exemplo, que restringem a concessão de entrevistas na época de lançamentos a jornais que não publicaram determinado tipo de informação ou não se posicionaram da forma como elas haviam pré-determinado. A alternativa aqui, segundo ele, é buscar brechas e espaços pouco explorados anteriormente. “Depois de um tempo acompanhando determinado autor, você consegue identificar buracos e incoerências rendem algo mais diferente”.
Menezes também destacou como o trabalho das assessorias dificulta a realização de uma matéria mais diversificada na área. “Você viaja à um país diferente para entrevistar um ator e, chegando lá, você dá de cara com um dossiê de 50 páginas do que não perguntar durante a coletiva. É um horror”.
Diante deste cenário, ele diz que o jornalista deve aguçar seu espírito investigativo no dia-a-dia e desconfiar de todo o material que chega às redações. Nesse sentido, Thales afirmou que a função do jornalista cultural hoje se modificou e não se resume apenas a um simples repasse de uma notícia. “Hoje a função fundamental do jornalista, mais que transmitir informações, é a contextualização. Quando eu posso baixar o disco no mesmo momento em que é lançado, não importa mais saber se ele é bom ou ruim. Este tipo de crítica não se encaixa mais hoje”. Ele alega que com o turbilhão de informações encontradas na internet, o jornalista passa a ser a referência do leitor do caderno de cultura – que ele nota estar cada vez menos passivo.
Ubiratan também chamou a atenção para as matérias sobre política cultural que têm rendido um lado mais diferenciado e aproximado da investigação na área cultural. O que Thales concorda: “Essa área merece destaque em um país em que tudo o que envolve política está ligado a um jogo de interesses individuais”.
Thales apontou também a falta de repertório e preparo dos jornalistas como possível causa de se ver tanta coisa parecida na imprensa, e aposta que o caminho a ser seguido é a especialização e o aprofundamento dos profissionais em determinados temas, e não mais a formação generalista.
Entre o cult e o pop, os rumos do jornalismo cultural no Brasil
Palestrante: Thales de Menezes e Ubiratan Brasil
Data: 13 de julho, 14h
Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré, Open Society Foundations, Panda Books, Propeg, Textual e UNESCO.