Foto: Rodrigo Gomes
Por Paola Perroti (2° ano/Cásper Líbero)
“A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram”. Esta frase de Ulysses Guimarães, proferida durante um discurso na Assembleia Nacional Constituinte de 1988, inspirou a jornalista Miriam Leitão a contar a história de Rubens Paiva, deputado cassado durante a ditadura de 1964, preso e torturado em 1971, cujo corpo continua desaparecido.
O projeto, no entanto, só saiu do papel anos depois, com a criação da Comissão da Verdade, que serviu de gancho para a história. Em conjunto com o produtor e editor no canal GloboNews, Claudio Renato, Miriam fez a reportagem de 50 minutos “Rubens Paiva – Uma história inacabada”.
Clique aqui para assistir a reportagem.
Completando 40 anos de carreira este ano, a premiada jornalista contou sobre o processo de produção da reportagem durante o painel realizado na manhã do sábado (14), no 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji.
Além da matéria para a televisão, as entrevistas e quase oito horas de material em áudio renderam uma grande reportagem para o jornal O Globo e conteúdo interativo para tablets. Segundo Miriam, não adiantava só reproduzir o mesmo material em plataformas diferentes. “Como contar uma história em multiplataforma foi o nosso desafio. Não foi um requentado, a gente fez coisas novas em outras plataformas”, disse. De acordo com a jornalista, foi necessário obedecer à lógica de cada veículo para saber o que caberia melhor nos respectivos formatos.
Caso Rubens Paiva sintetiza o período
Os caminhos para a produção da reportagem foram árduos. Miriam e Claudio revezavam suas responsabilidades diárias com uma profunda pesquisa e muita apuração. Foram finais de semanas e madrugadas debruçados em todo o material que eles conseguiam encontrar. “Essa reportagem tem uma matéria-prima básica: ela foi feita com muita paixão”, disse Miriam.
Os jornalistas acreditam que o caso de Rubens Paiva tenha se encaixado perfeitamente como síntese da situação que muitos brasileiros vivenciaram e testemunharam durante os anos de chumbo. “Por que a gente escolheu o Rubens Paiva? Ele era uma pessoa que tinha uma vida normal, tinha um direito político cassado, mas vivia com a família dele, trabalhava. Num determinado dia ele foi retirado de casa, sequestrado pelos militares e a família ficou em cárcere privado. As pessoas sempre vêm falar com a gente ‘isso podia ter acontecido com meu pai, meu avô’”, completa Claudio.
Vítima de tortura durante a ditadura, Miriam Leitão teve que saber como conciliar técnica e emoção, mas não abriu mão de suas opiniões durante a produção da reportagem. O resultado final deste trabalho não esconde o lado em que está. “Entre torturado e torturador não há dois lados. Não tenho dúvida de que lado eu estou. Nunca tive”, afirma. Para Claudio Renato, não existe parcialidade, mas isenção. “Fomos isentos ao dar voz aos dois lados, mas não precisamos concordar com os dois”, acredita.
Uma história inacabada – O caso Rubens Paiva
Palestrante: Miriam Leitão e Claudio Renato
Data: 14/07/12 – 9h
Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré, Open Society Foundations, Panda Books, Propeg, Textual e UNESCO.