Jornalistas explicam série de reportagens sobre o banco de Silvio Santos que conquistou Prêmio Esso

Leandro Modé e David Friendlander, do Estadão, ganharam o Prêmio Esso de Jornalismo em 2011, na categoria Informação Econômica

Fotos: Rodrigo Gomes

Por Gabriela Zaniratto (3º ano/Universidade São Judas Tadeu)

 A sequência de matérias investigativas sobre o rombo no banco Panamericano feitas por David Friendlander, Leandro Modé, Fausto Macedo e Sonia Racy, do jornal O Estado de S. Paulo, venceu o Prêmio Esso de Jornalismo em 2011, na categoria Informação Econômica. Todas as informações publicadas foram dadas de forma inédita, desde a denúncia do rombo até a entrevista exclusiva com o então vice-presidente do Grupo Silvio Santos, Luiz Sandoval.

Friedlander e Modé participaram do 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, no sábado (14), e relataram como foi o processo de apuração e escrita dos textos.

Os repórteres foram os primeiros a noticiar a fraude do banco que pertencia ao empresário Silvio Santos, em 9 de novembro de 2011. “Começou como uma reportagem de internet e foi ganhando repercussão. Houve uma complementariedade de conhecimentos dos jornalistas”, disse Modé. “O caso não acabou, ainda está no Ministério Público e será encaminhado para a Justiça. Muita coisa pode acontecer.”

A repercussão ocorreu devido à notoriedade de Silvio Santos e pelo fato de a Caixa Econômica Federal ser sócia do banco. “Na época, as pessoas que mandavam recados ao SBT querendo saber como poderiam enviar dinheiro para ajudar Silvio Santos”, lembra Modé, ressaltando a comoção causada pelo assunto.

Os repórteres foram os primeiros a noticiar a fraude do banco que pertencia a Silvio Santos

Para a produção, fontes confiáveis foram essenciais na parte inicial das investigações. Depois, a equipe realizou um amplo processo de checagem em relatórios e documentos particulares. “O relacionamento com a fonte é tudo”, disse Friendlander. Ouvir todos os lados envolvidos e manter a atenção também fizeram parte da cobertura. “Fizemos uma ronda como em rádio escuta. Ligávamos para as fontes todos os dias”, disse Modé.

Leia as reportagens que ganharam o prêmio

Banco Panamericano, do Grupo Silvio Santos, recebe R$ 2,5 bi para cobrir fraude

Panamericano tem rombo maior que R$ 2,5 bilhões e negocia novo socorro

Proer privado resgata Silvio Santos 

O vice-presidente de finanças do banco mandou o contador maquiar o balanço

As fraudes no banco de Silvio Santos
Palestrante: David Friendlander e Leandro Modé
Data: 14/07/12 – 16h

Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré, Open Society Foundations, Panda Books, Propeg, Textual e UNESCO.

Jornalista explica como descobriu patrimônio incompatível com padrão de vida do ex-ministro Palocci

Andreza Matais relatou série de reportagens que levou à queda de Palocci, em palestra moderada por Rubens Valente

Foto: Rodrigo Gomes

Por Roberto Bueno (2º ano/Universidade Metodista de São Paulo)

Andreza Matais, da sucursal de Brasília da Folha de S. Paulo, contou  como foi gerada a série de matérias que acabaram levando à queda do ministro da Casa Civil do inicio do governo Dilma, Antonio Palocci. A palestra ocorreu em 14 de julho no 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado no campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi.

Com moderação de Rubens Valente, a jornalista apresentou, em detalhes, o processo das reportagens.  “Num bate papo informal com uma pessoa, ela me contou, sem intenção nenhuma, que Palocci estava morando num apartamento ‘muito chique’ em São Paulo. A partir desse fato, chequei se o apartamento se encaixava no padrão de vida do ministro”, explicou Andreza.

Dessa conversa até a publicação da matéria pela Folha foram mais de quatro meses de investigação árdua, dividida com sete outros jornalistas da sucursal do jornal em Brasília – entre eles, José Ernesto Credendio e Catia Seabra. Com essa série, o trio de jornalistas ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo de 2011.

Segundo Andreza, “para fazer essa reportagem foram necessárias varreduras em cartórios de imóveis, de títulos e no site da Junta Comercial de São Paulo. Após a descoberta do nome da empresa do ex-ministro Palocci, tivemos de refazer as consultas nos cartórios, ver o que achávamos da empresa. Foi quando se descobriu o apartamento alugado.”

Relembre o caso

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Empresa de Palocci faturou R$20 mi no ano da eleição

Em 2 meses, após a eleição, Palocci faturou R$10 mi

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O patrimônio e as consultorias que derrubaram Palocci
Palestrante: Andreza Matais
Data: 14/04/12 – 14h

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Miriam Leitão: “Entre torturado e torturador, não há dois lados”

Miriam Leitão: “Sobre esta questão, não tenho dúvida de que lado eu estou. Nunca tive”

Foto: Rodrigo Gomes

Por Paola Perroti (2° ano/Cásper Líbero)

“A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram”. Esta frase de Ulysses Guimarães, proferida durante um discurso na Assembleia Nacional Constituinte de 1988, inspirou a jornalista Miriam Leitão a contar a história de Rubens Paiva, deputado cassado durante a ditadura de 1964, preso e torturado em 1971, cujo corpo continua desaparecido.

O projeto, no entanto, só saiu do papel anos depois, com a criação da Comissão da Verdade, que serviu de gancho para a história. Em conjunto com o produtor e editor no canal GloboNews, Claudio Renato, Miriam fez a reportagem de 50 minutos “Rubens Paiva – Uma história inacabada”.

Clique aqui para assistir a reportagem.

Completando 40 anos de carreira este ano, a premiada jornalista contou sobre o processo de produção da reportagem durante o painel realizado na manhã do sábado (14), no 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji.

Além da matéria para a televisão, as entrevistas e quase oito horas de material em áudio renderam uma grande reportagem para o jornal O Globo e conteúdo interativo para tablets. Segundo Miriam, não adiantava só reproduzir o mesmo material em plataformas diferentes. “Como contar uma história em multiplataforma foi o nosso desafio. Não foi um requentado, a gente fez coisas novas em outras plataformas”, disse. De acordo com a jornalista, foi necessário obedecer à lógica de cada veículo para saber o que caberia melhor nos respectivos formatos.

Caso Rubens Paiva sintetiza o período

Os caminhos para a produção da reportagem foram árduos. Miriam e Claudio revezavam suas responsabilidades diárias com uma profunda pesquisa e muita apuração. Foram finais de semanas e madrugadas debruçados em todo o material que eles conseguiam encontrar. “Essa reportagem tem uma matéria-prima básica: ela foi feita com muita paixão”, disse Miriam.

Os jornalistas acreditam que o caso de Rubens Paiva tenha se encaixado perfeitamente como síntese da situação que muitos brasileiros vivenciaram e testemunharam durante os anos de chumbo. “Por que a gente escolheu o Rubens Paiva? Ele era uma pessoa que tinha uma vida normal, tinha um direito político cassado, mas vivia com a família dele, trabalhava. Num determinado dia ele foi retirado de casa, sequestrado pelos militares e a família ficou em cárcere privado. As pessoas sempre vêm falar com a gente ‘isso podia ter acontecido com meu pai, meu avô’”, completa Claudio.

Vítima de tortura durante a ditadura,  Miriam Leitão teve que saber como conciliar técnica e emoção, mas não abriu mão de suas opiniões durante a produção da reportagem. O resultado final deste trabalho não esconde o lado em que está. “Entre torturado e torturador não há dois lados. Não tenho dúvida de que lado eu estou. Nunca tive”, afirma. Para Claudio Renato, não existe parcialidade, mas isenção. “Fomos isentos ao dar voz aos dois lados, mas não precisamos concordar com os dois”, acredita.

Uma história inacabada – O caso Rubens Paiva
Palestrante: Miriam Leitão e Claudio Renato
Data: 14/07/12 – 9h

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Repórteres do Correio revelam bastidores de matéria sobre homicídios em Salvador indicada ao Prêmio Esso

Juan Torres e Victor Uchôa, do Correio, abordaram a escalada de mortes na capital baiana em série de cinco reportagens

Fotos: Leandro Melito

Por Fernanda Lima (4º ano / Anhembi-Morumbi)

“Uma história emocionante, daquelas que nos faz sentir que estamos na profissão certa”, afirmou a estudante de jornalismo Mônica Castro, que não conseguiu esconder a felicidade ao sair da palestra 1000 vidas, apresentada por Victor Uchôa e Juan Torres. A dupla de jornalistas do jornal Correio, de Salvador, esteve presente no 7º Congresso de Jornalismo Investigativo, contando como foi o processo de produção da grande reportagem que chegou a ser finalista da 56ª edição do Prêmio Esso de Jornalismo.

Segundo a dupla, o projeto começou em janeiro do ano passado, quando em um único final de semana foram registrados 30 homicídios. A capa do  Correio do dia seguinte noticiou: “A capital da violência”. Alguns dias depois, a polícia decidiu não falar mais com a imprensa, muito menos divulgar as informações que eram de domínio público. “Eles se fecharam em uma bolha de informação. Demos a capa do dia 18 como ‘Crime, que crime?’”, lembrou Juan Torres.

A Secretaria de Segurança Pública decidiu, então, divulgar os boletins de ocorrência online, em um sistema que tanto a imprensa quanto os cidadãos poderiam acessar. Foi a partir dos boletins que a dupla teve a ideia de usar os dados para subsidiar algumas matérias.

O número de homicídios não parava de crescer, e eles criaram um gancho: esperar a milésima morte, escolhida como símbolo para a reportagem. A dupla se programou e dividiu a série em cinco dias, em que o objetivo do primeiro era apresentar um perfil da vítima.

Juan Torres: “É um desafio mostrar os números de forma interessante, humanizá-los. Números normalmente são enfadonhos.”

Para fazer a primeira matéria da série, os jornalistas acompanharam a morte de Wesley Morais Oliveira, o morto número 1.000. “Fomos à casa da família, conversamos com os colegas de escola dele e seguimos até o local onde seria enterrado. Ao chegar, deparamos com o corpo jogado em uma vala, esquecido e com as moscas voando sobre ele. Logo em seguida, o irmão do Ueslei chegou, tirou a camiseta e começou a espantar as moscas.”

Eles apresentaram os números aos leitores, com textos misturados a infográficos minuciosos. “É um desafio mostrar os números de forma interessante, humanizá-los. Números normalmente são enfadonhos”, afirmou Juan Torres, que contextualizou historicamente os homicídios, comparando-os aos de 2008 e 2010.

No terceiro dia, a ideia era fazer uma crônica sobre o bairro Paripe, o mais violento de Salvador. No penúltimo dia, os repórteres apresentaram os autos de resistência da Segurança Pública. O quinto e ultimo dia ainda não havia sido planejado.

Então, a dupla foi procurar pessoas que deveriam estar na lista de mortos, mas que por algum motivo conseguiram se salvar. “Tentamos não tornar a matéria sensacionalista, caindo no piegas e no dramalhão. Quisemos contar a história de uma forma diferenciada”, disse Uchôa.

Torres e Uchôa afirmam que durante toda a produção da reportagem não tiveram tempo para outra atividade. Passavam os fins de semana em casa, coletando e checando dados. “Mas valeu a pena e deixou, sem dúvida, uma grande lição: nós não podemos ser o obstáculo da nossa pauta”, afirmou.

1000 vidas
Palestrantes: Juan Torres  e Victor Uchôa
Data: 13/07/12 – 11h

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Reportagem chama a atenção de jornalista e resulta na investigação de ministro

Thiago Herdy, do jornal O Globo: “A comissão (Comissão de Ética Pública da Presidência) está enrolando. Por isso, duvido que dê em alguma coisa. Mas fiz minha parte, mostrei as atividades do ministro”

Foto: Rodrigo Gomes

Por Thales Willian (3º ano / Universidade Braz Cubas)

“Pelo menos cinco ministros do governo federal têm empresas de consultoria que continuam ativas em pleno exercício do cargo”. A informação ganhou manchete no jornal O Estado de S. Paulo em maio do ano passado e chamou atenção do repórter de O Globo, Thiago Herdy (foto), que decidiu seguir os passos do ministro de Desenvolvimento, Comércio e Indústria, Fernando Pimentel.

A apuração do jornalista durou dois meses e revelou que o político faturou pelo menos R$ 2 milhões em consultorias desde que deixou a prefeitura de Belo Horizonte até assumir cargo no governo de Dilma Rousseff.

No dia em que o jornal revelou a atividade dos ministros, Herdy cobriu a inauguração de um parque tecnológico de Ipatinga, em Minas Gerais. Pimentel estava no evento e aproveitou a oportunidade para justificar seu envolvimento em trabalhos de consultoria, conforme havia adiantado o Estadão naquela manhã.

Desafio: descobrir as empresas que receberam a consultoria do ministro

“Fiquei com a pulga atrás da orelha pelo cinismo usado em seu comentário sobre os ganhos com as consultorias, dizendo que não eram extraordinários. Botei isso na cabeça e encarei como uma missão descobrir quais eram as empresas em que ele atuava como consultor”, contou Herdy.

O jornal também citou a participação dos ministros José Eduardo Martins Cardozo (Justiça), Moreira Franco (Assuntos Estratégicos), Leônidas Cristino (Portos) e Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional) em atividades de consultoria.

Questionado, o repórter disse que optou em investigar Pimentel pela relevância do político e por se tratar de um político mineiro (Herdy era repórter de O Globo em Belo Horizonte). A apuração levou dois meses. Neste período, as fontes, não reveladas pelo jornalista, foram imprescindíveis. “Esse tipo de matéria não dá para ser feita apenas com informações públicas, infelizmente”, afirmou Herdy.

Após investigação, o jornalista descobriu que Pimentel ganhou R$ 2 milhões em consultorias. A Comissão de Ética Pública da Presidência decidiu investigar o caso, aceitando denúncia do PSDB com base nas reportagens. “A comissão está enrolando. Por isso, duvido que dê em alguma coisa. Mas fiz minha parte, mostrei as atividades do ministro”, disse no fim de sua apresentação no 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.

As consultorias fantasmas de Fernando Pimentel
Palestrantes: Thiago Herdy
Data: 14/07/12 – 9h

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“A informação mais importante é, muitas vezes, a falta de informação”, diz Eliane Brum

Foto: Alexandre Maciel

Por Tamiris Gomes (2º Ano/Universidade Cruzeiro do Sul)
e Alessandra Alves (3º Ano/ECA-USP)

“- Por favor, não me deixe morrer.

A menina me agarra pelos braços. Tem apenas 11 anos. Seus olhos, porém, são tão velhos quanto os meus. Ou mais. Sonia é o seu nome. Naquele instante em que ela me pede para mudar o mundo, eu afundo na impotência. ‘Eu vou contar a sua história’, respondo. Mas eu e ela conhecemos o mundo o suficiente para saber que dificilmente ela se salvará. Sonia e eu sabemos que o mundo são se importa, nem com ela, nem com os seus. Que o mundo nem sequer a vê.”

É com este trecho que a jornalista Eliane Brum inicia a história da família boliviana Cotrina Veizaga, contada em sua reportagem publicada no recém-lançado livro “Dignidade!”, produzido em parceria com a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) e mais oito escritores em diferentes países. O tema do livro é o assunto do painel “Doença de Chagas na Bolívia: os vampiros da realidade só matam pobres”, do 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. E é sob uma atmosfera de sensibilidade e uma sala lotada que Brum contou os bastidores dessa reportagem.

Eliane narra histórias com que se deparou ao chegar à Bolívia, ao ver de perto as nuances e os efeitos da Doença de Chagas naquela população. Seu objetivo era expor esta experiência e comentar o que extraiu dela. “Devemos chegar em um ambiente sabendo que não sabemos nada. É preciso respeitar as pessoas que moram ali, que conhecem o lugar e o contexto melhor do que nós. A gente tem que entrar no mundo de outra pessoa pedindo licença para entrar, mesmo que a porta seja invisível”.

Depois de escrever o romance “Uma Duas”, a jornalista parte novamente à produção de mais uma grande reportagem, em seu melhor estilo. “Todos os escritores podiam fazer o que quisessem, tanto ficção, quanto reportagens. Eu saí do Brasil decidida a fazer ficção, pois achei que seria uma experiência interessante partir da realidade para escrevê-la. Mas mudei de ideia”, relata. Para Brum, escrever uma ficção com a história daquelas pessoas seria uma traição: “Elas eram ignoradas pelo resto do mundo. Era preciso escrever uma reportagem que reconhecesse nome e sobrenome e contasse as suas histórias”.

Ela conta que, ao chegar à realidade de Aiquile, na Bolívia, compreendeu que a “informação mais importante é a falta de informação”. “Antes de sair do Brasil eu pensei sobre o que eu sabia em relação à Doença de Chagas e constatei que eu sabia o que a maioria de vocês sabem, o que a gente aprende no colégio. Mas ao ouvir o depoimento daquelas pessoas, percebi que tudo o que eu tinha lido era muito pouco e que eu não sabia absolutamente nada sobre a doença. Faltavam histórias de gente”.

Durante a mesa, a repórter leu vários trechos do livro e mostrava no projetor da sala algumas fotos das pessoas com quem conversou. A personagem mais emblemática é Sonia Cotrina Veizaga, a menina “com olhos de velha”, citada no trecho acima.  A família de Sonia descobriu, a partir da chegada dos MSF, que todos tinham Chagas.

Um dos desafios na elaboração das reportagens foi driblar a dificuldade com os idiomas. Em Aiquile, não servia espanhol nem castelhano: a língua quéchua era a falada pelos habitantes da região. Sempre acompanhada pela tradutora, Eliane afirmou que esse problema foi superado, uma vez que o tradutor passa a ser uma “extensão” do repórter, sem deixar passar os detalhes.

“Ao me despedir de Sonia, ela agarrou meus braços e pediu que eu não deixasse ela morrer”

Mas o maior desafio foi, segundo Brum, a hora de ir embora: “Ao me despedir de Sonia, ela agarrou meus braços e pediu que eu não deixasse ela morrer. Impactada pelo desespero de Sonia, só pude responder que contaria a história dela. Mas tanto eu como ela percebemos que aquilo não era suficiente para a salvar a sua vida.”

A repórter conta que chamou de “vampiros da realidade” as vinchucas (nome quéchua para o barbeiro, inseto transmissor da doença). “Conversando com as pessoas, senti que a vinchucha era mais do que um inseto. Se tratava de uma entidade, estava onipresente na vida daquelas pessoas, cujos pais, tios e avós sofrem pelos mesmos problemas”.

Ao final da exposição, os participantes formam filas para prestigiar a jornalista, seja para receber um autógrafo, tirar uma foto, ou prestar um elogio. “Todos em silêncio, numa mesma sintonia com o que ela estava dizendo. É legal que ela te passa toda uma concepção. Vai além do profissional, é uma coisa interior”, diz Saulo Pereira Guimarães, de 21 anos, estudante do último ano de jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Por ela ser uma jornalista tão conceituada eu a imaginava outra pessoa. Ela é muito humilde. Todo aquele glamour que as pessoas dizem haver no jornalismo, ela mostra que não é apenas isso, jornalismo é utilidade pública”, argumenta Agnes Cristine Figueredo Cavalcante, de 22 anos, jornalista no jornal O Rio Branco, no Acre.

Doença de Chagas na Bolívia: os vampiros da realidade só matam pobres
Palestrante: Eliane Brum
Data: 13/07/12 – 16h30

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“É preciso descobrir quem está por trás dos traficantes que lotam cadeias”, diz Hudson Corrêa

Fotos: Leandro Melito

Por Alessandra Alves (3º ano / ECA-USP)

Em palestra no 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, Hudson Corrêa, repórter da revista Época, enfatizou a importância de uma cobertura jornalística mais aprofundada sobre o narcotráfico: “O Brasil é um país de dimensões continentais e é importante na dinâmica do narcotráfico da região”, afirmou.

Ao comentar os bastidores de sua reportagem “Os Novos Barões do Narcotráfico”, publicada em Época, em 2011, Hudson Corrêa contou sobre dificuldades vividas na elaboração da reportagem. “Foram três meses para apuração, dois deles somente para buscar e analisar documentos. Viajamos para cidades do Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraguai.”

De acordo com Corrêa, o intuito da reportagem era mostrar grandes nomes por trás do narcotráfico. É na cidade de Pedro Juan Caballero, no departamento paraguaio de Amambay, que mora Luiz Carlos da Rocha, apontado pela Polícia Federal (PF) brasileira como o número 1 do narcotráfico. “Muitos dos novos ´barões´ atuam em uma rede organizada sob uma lógica empresarial. A PF estima que o narcotráfico movimenta cerca de 100 milhões de dólares nas fronteiras entre Ponta Porã (Mato Grosso do Sul) e Pedro Juan Caballero.”

Para Corrêa, o jornalismo brasileiro precisa oferecer mais espaço para as questões relacionadas ao narcotráfico. “O Brasil possui importância fundamental para o narcotráfico da região. Os principais articuladores do narcotráfico na Bolívia e no Paraguai são brasileiros, além de o Brasil servir também como rota para a droga exportada para a Europa”, disse.

Após expôr fotos e vídeos feitos durante a apuração, Hudson Corrêa respondeu a perguntas dos presentes. Uma delas questionou se a descriminalização de drogas seria uma boa medida para diminuir os conflitos. “O narcotráfico possui efeitos terríveis, como a superlotação de cadeias, corrupção de instituições públicas e lavagem de dinheiro. Não sei se descriminalizar seria a solução: como seria se uma droga fosse considerada legal no Brasil, mas ilegal em países vizinhos?”, questionou.

Novos barões do narcotráfico
Palestrante: Hudson Corrêa 
Data: 13/7, 14h

Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré, Open Society Foundations, Panda Books, Propeg, Textual e UNESCO.

Jornalista revela processo de elaboração das matérias sobre o caso das lanchas do Ministério da Pesca

Foto: Alexandre Maciel

Por Gabriela Zaniratto (3º ano/Universidade São Judas Tadeu)

Cruzamento de dados e entrevistas. Segundo Marta Salomon, do jornal O Estado de S. Paulo, a dinâmica utilizada para produzir as reportagens sobre o caso Ideli foi simples e sem segredos. Em palestra ministrada sobre o tema durante o 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo realizada nesta sexta-feira, 13 de julho, a jornalista revelou quais os documentos utilizados e como estabeleceu a rede de fontes essenciais à produção das matérias.

A notícia veio por meio do relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), emitido em março deste ano, que apresentou uma análise do Ministério da Pesca. No documento constavam aquisições de 28 lanchas-patrulha, ao custo de R$ 31,1 milhões. Marta conta que o fato ganhou relevância uma vez que R$ 5,2 milhões do total foram repassados durante a gestão de Ideli Salvatti, também responsável pela articulação do governo Dilma Rousseff.

Após consulta no Portal da Transparência, saiu a primeira notícia que funcionou como denúncia. O texto ressaltou que as lanchas adquiridas não eram utilizadas, pois o Ministério não tinha competência para realizar as fiscalizações necessárias.

O segundo texto publicado expôs que a fornecedora das lanchas, Intech Boating Comércio de Embarcações Ltda., havia repassado R$ 150 mil para os custos da campanha de Ideli, quando ela disputou o cargo de governador no estado de Santa Catarina, em 2010.

Marta fez contato com o dono da empresa, José Antônio Galízio Neto, com quem conseguiu entrevista exclusiva. “Ele falou que estava aborrecido com as lanchas encalhadas e disse que não era nada antes do contrato com o governo”, informa a jornalista. O empresário também informou que o pedido de doação para a campanha havia sido feito por alguém de dentro do próprio Ministério.

Para descobrir quem o responsável pelo pedido, a jornalista montou um mapa e começou o rastreamento. Ligou para os envolvidos e perguntou com quem haviam tratado, até que uma fonte informou que o comandante não estava descrito na auditoria. Era Karim Bacha, que já não tinha mais cargo público, e confirmou as suspeitas.

Sobre esse caso específico, Marta Salomon destaca que “qualquer um” poderia ter feito a apuração, sem depender de fontes exclusivas ou escutas. Todas as entrevistas foram feitas de forma franca, com identificação da repórter do Estadão, e as informações cruzadas através de números obtidos nos bancos de dados disponíveis ao público na internet.

Lanchas da Ideli: investigação no Ministério da Pesca
Palestrante: Marta Salomon
Data: 13/07/2012 – 16h30

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Um instante decisivo para a história da política brasileira

Fotos: Leandro Melito

Por Marina Lopes (2º ano / Mackenzie)

“O Depoimento de Silvaldo ajuda a enterrar a versão militar de que (Vladimir) Herzog se suicidou.” Com essas palavras, o jornalista Lucas Ferraz (foto) resumiu a reportagem “O Instante Decisivo” e abriu sua palestra durante o 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji.

Na reportagem de duas páginas, publicada no suplemento Ilustríssima da Folha de S. Paulo em 7 de fevereiro de 2012, Ferraz conseguiu entrar em contato pela primeira vez com Silvaldo Leung Vieira, autor foto do corpo sem vida do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-CODI, de São Paulo.

Ele trabalha para a Folha desde 2007, participando de coberturas na Amazônia, América Latina e de eleições brasileiras. Por um tempo ficou fora do país pelo jornal e quando voltou estava procurando pautas, já que não se encontrava muito por dentro do noticiário local. Durante uma conversa, um amigo contou que conhecera o fotógrafo que dizia ter feito a imagem do corpo do jornalista Vladimir Herzog e tido muitos problemas em decorrência disso.

Ferraz começou a investir nessa pauta e achou o fotógrafo pela rede social Facebook. Sivaldo foi localizado em Los Angeles (EUA), onde vive desde 1979. Ele fez contato por e-mail e, depois, por telefone. O processo durou cerca de um mês. “O ideal em um caso assim seria ir para lá e encontrar com ele”, afirmou. Porém, o fotógrafo hesitou.

Em um primeiro momento, Lucas Ferraz ficou com medo de cair no erro de publicar uma informação incorreta. Entretanto, ele começou a verificar dados no JusBrasil, site com informações públicas gratuitas, e juntar os dados. Além disso, encontrou o Diário Oficial do Estado de São Paulo com o nome de Sivaldo entre os 24 aprovados para o concurso de fotógrafo da polícia. Após conversar com algumas fontes, entre elas militares, ele conseguir montar o quebra-cabeça da história da foto.

O instante de Bresson

Lucas Ferraz intitulou sua matéria de “O instante decisivo”, conceito criado por Henri Cartier-Bresson para definir o momento em que o fotógrafo conseguiria captar o momento decisivo para a sua fotografia.

Porém, o sentido do termo foi empregado de forma diferente por ele na matéria. Nesse caso, o instante não foi o momento em que o fotógrafo fez seu registro e sim uma foto que foi considerada decisiva para história da vida política brasileira.

A redação da reportagem

Ao ler o texto de Lucas, é possível perceber que ele foi trabalhado de uma forma diferente, percebido pela riqueza de detalhes como o modelo da câmera utilizada pelo fotógrafo, uma Yashica 6X6 TLR.

Para Ferraz, escrever no caderno Ilustríssima foi uma oportunidade de elaborar uma reportagem diferente dos moldes tradicionais e diretos utilizados pelo jornalismo. Segundo ele, “como estava apurando com tempo a história, consegui trabalhar melhor o texto”.

Jornalismo e História

Durante a palestra foram discutidos temas como a importância de registros como esse para a história brasileira. Um dos participantes questionou a relevância do registro de Lucas, por já ser conhecido que Herzog não cometeu suicídio – como sugerido na farsa montada pela ditadura para encobrir que morrera sob tortura.

Entretanto, para Nemércio Nogueira (foto), diretor do Instituto Vladimir Herzog e moderador da palestra, o jornalista domina a arte de obter e registrar informações. “O valor é muito maior que apenas história, porque isso é quente”, afirmou.

O Instante Decisivo
Palestrante: Lucas Ferraz
Data: 13/07/12 – 14h

Leia também
Entrevista com Lucas Ferraz 

Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré.

Lourival Sant’Anna conta como cobriu guerras na Líbia e na Síria

 

Foto: Leandro Melito

Por Giulia Afiune (3º ano/Cásper Líbero)

“Bombardeios dispõem as coisas de forma caprichosa. Cobertores projetados no ar se penduram nos fios elétricos, que se entrelaçam sobre as ruas como teias de aranha, sustentando os postes, numa inversão de papéis.” Lourival Sant’Anna contou que a riqueza de detalhes da matéria Reduto do Hezbollah é agora pó e entulho, publicada em 14 de agosto de 2006, é obtida com a ajuda de fotos, áudios e vídeos, na palestra Primavera Árabe – cobertura multiplataforma, dia 13 de julho, às 9h, no 7o Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. “Fui substituindo o bloco de anotações pelo vídeo, porque muitas vezes não dá tempo de anotar tudo”, relatou, enquanto mostrava a pequena câmera que usa. “Dá pra filmar dentro do carro, fugindo de um tiroteio na Líbia”, riu.

O repórter já esteve em 53 países, entre eles Cuba, Palestina, Síria e Iraque, onde cobre conflitos, guerras e crises há 23 anos, em sua maioria para o Estadão. Após exibir um vídeo feito na Síria, afirmou: “Apesar de eu priorizar o texto, às vezes é frustrante escrever, porque não dá pra mostrar a cara de uma menina chorando por causa do primo assassinado”.

“Falar aquilo para um jornalista era uma sentença de morte, porque um oficial da polícia política síria estava me acompanhando”, informou Lourival, que sentiu a necessidade de divulgar essas imagens rapidamente. “Eu tento passar a situação mais leal possível, porque na guerra a pessoa arrisca sua vida para contar essas histórias.
Apesar dos perigos, ele conta que só sente medo antes de ir a campo. “Na hora, não sinto nada. Tenho um recurso obsessivo que afasta o medo: fico contando as bombas, olhando a temperatura ou a bússola no meu relógio de pulso, porque isso também é informação.” No entanto, ele se emociona depois. “Sempre que eu vejo esse vídeo, choro.”

Bastidores

Sant’Anna contou que viaja leve: a câmera vai no bolso da jaqueta e o bloco, no bolso superior da mochila. “Tenho cara de afegão, de sírio. Aí eu fico misturado, como qualquer outra pessoa”, contou. Bem humorado, ele disse que aprendeu a passar três dias com a mesma camiseta e uma semana sem trocar de calça. “Lavo minhas roupas no banheiro e no deserto seca rápido, o que é legal. Descobri que é isso que define um bom repórter”, brincou.

Lourival contou que o fuso horário no Oriente Médio e na Europa dá mais tempo até o deadline e destacou a importância de equipamentos pequenos e eficientes para uma boa cobertura. “Gravo o áudio com um Olympus WS-760M e os vídeos com uma máquina fotográfica Canon Power Shot S5 IS. Depois, assisto aos vídeos, ouço as gravações e vou escrever o texto, o que exige mais energia e esforço intelectual que o vídeo – mais sensorial”. A edição das imagens, feita no programa iMovie, em um MacBook Pro com memória RAM dobrada, fica para depois.

Sobre como fazer contatos e encontrar boas fontes e personagens, Lourival resume: “É preciso experiência, instinto e razão”.

Primavera Árabe – cobertura multiplataforma
Palestrante: Lourival Sant’Anna
Data: 12/07/12 – 9h

Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré, Open Society Foundations, Pand Books, Propeg, Textual e UNESCO.