Fotos: Ricardo Rossetto e Leandro Melito
Por Ricardo Rossetto (2º ano / Cásper Líbero)
Há quase dois meses em vigor, a Lei de Acesso à Informação colocou a relação da sociedade civil com o poder público num novo patamar. Com ela, todo cidadão pode ter acesso a informações oficiais dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A lei também beneficiou imprensa, que poderá exercer, de modo mais intenso, a fiscalização das autoridades. Os dois principais jornais paulistas, O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo, lançaram projetos inéditos de coleta e interpretação de dados que pretendem se tornar espelhos para iniciativas semelhantes no restante do país.
Desmentir as narrativas oficiais e desmascarar políticos corruptos tem sido o trabalho do repórter investigativo da Folha em Brasília, Rubens Valente, e de sua equipe no projeto Folha Transparência. Desde que foi lançado, no final do ano passado, os jornalistas requisitaram documentos em todos os ministérios do Governo. Porém, apenas o Itamaraty colaborou e cedeu 15.266 telegramas. Os documentos forneceram subsídio para uma série de reportagens chamada “Segredos do Itamaraty”, em que o jornal revelou relações diplomáticas tensas entre Brasil e Estados Unidos, além de outras manobras políticas no continente.
“É um trabalho complicado. Na maioria das vezes, os ministérios divulgam enormes bases de dados em planilhas extensas. Precisamos nos debruçar sobre esse material e buscar interpretá-los”, aponta ValenteFernando Gallo, repórter da editoria Nacional do Estadão, comanda um trabalho semelhante com o blog Públicos. Para ele, a alimentação de conteúdo nesse espaço é quase um dever cívico. “A ideia é que o blog seja um ‘watch-dog’ para a lei de acesso, ou seja, um meio de comunicação que funcione como um vigilante dos desmandos administrativos”, explica Gallo. “O meu trabalho e o do Rubens são complementares, porque cada um dos projetos analisa um aspecto diferente da informação obtida junto ao governo. O papel do repórter é retirar do Estado aquilo que ele não quer divulgar”, completa.
Para entender os dados públicos
Para ajudar os jornalistas na interpretação de uma infinidade de informações não hierarquizadas, diversos hackers se reuniram nos últimos meses para criar aplicações que facilitem o acesso e a compreensão dos dados públicos. A primeira instituição a realizar uma maratona hacker foi a Câmara Municipal de São Paulo, seguida pelo Estadão, que surfou na mesma onda e promoveu o Hackatão. Em ambas as oportunidades surgiram programas que facilitam a leitura de tabelas e gráficos, além de agregar dados e possibilitar a comparação entre dois temas ou personagens públicos.
Na rede, algumas experiências já estão disponíveis para os usuários, como o Basômetro, do Estadão Dados, que coloca os votos dos políticos no Congresso Nacional em perspectiva e determina o quanto eles estão alinhados com o governo. Outro exemplo é o portal ‘Para Onde Foi o Meu Voto?’, que faz um levantamento completo dos 55 vereadores da cidade de São Paulo e as suas inclinações nos processos de votação dentro da Câmara paulistana.
Projetos de Transparência na mídia
Palestrante: Fernando Gallo e Rubens Valente
Data: 14/07/12 – 11h
Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré, Open Society Foundations, Panda Books, Propeg, Textual e UNESCO.