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Leonêncio Nossa: “A política e a Justiça decidiram pela anistia, mas o jornalismo não precisa acatar esta decisão. Não devemos julgar, mas podemos contar essa história.”

Fotos: Alexandre Maciel

Por Camila Moura (3º ano / FIAM-FAAM)

A Guerrilha do Araguaia (1966-1974) contada através de relatos da população que sofreu com a repressão. Após dez anos de pesquisas em arquivos públicos e particulares, o autor de Mata! O major Curió e as guerrilhas no Araguaia, Leonêncio Nossa, teve acesso ao lendário arquivo pessoal do major Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió – um dos protagonistas da repressão da ditadura militar à guerrilha – além de colher o depoimento de mais de 150 pessoas.

O autor revela detalhes das torturas e assassinatos que vitimaram dezenas de pessoas na década de 1970 na região do Araguaia, entre militantes do PC do B e simpatizantes locais.

Quase duzentos anos de história da região são abordados no livro, incluindo tragédias recentes como a exploração de ouro em Serra Pelada, os massacres de trabalhadores Sem-terra e a desordenada ocupação do território amazônico a partir do século XX. Ao traçar um panorama histórico da violência na região, chegando a conflitos recentes como o Massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, o jornalista contesta a tese de que a Guerrilha do Araguaia é só mais um episódio da Guerra Fria. Para ele, é possível contar a história do Brasil por meio do Araguaia.

Os documentos guardados por Curió — que foi prefeito de Curionópolis, cidade do Pará batizada em sua homenagem, e se manteve no poder até ser cassado em 2008 por compra de votos — contrariam o discurso dos militares de que os arquivos da ditadura foram destruídos e, portanto, seria impossível reconstituir os acontecimentos da ditadura militar.

No livro, o autor revela detalhes das torturas e assassinatos que vitimaram dezenas de pessoas na década de 1970 na região do Araguaia, entre militantes do PC do B e simpatizantes

Comissão da Verdade

“O sucesso da Comissão da Verdade depende da sociedade brasileira”, afirma Nossa. Segundo ele, alguns membros da Comissão estão lendo o livro, mas o autor se diz cético em relação a uma comissão de governo, até porque há uma sentença judicial de 2003 para a abertura dos arquivos militares que até hoje não foi cumprida. “A política e a Justiça decidiram pela anistia, mas o jornalismo não precisa acatar esta decisão. Não devemos julgar, mas podemos contar essa história.”

O lançamento paulista de Mata! aconteceu na sexta (13), durante o 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, que é promovido pela Abraji.

Leonêncio Nossa é vencedor dos prêmios Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, menção honrosa (2009), Embratel de Jornalismo (2011) e Estadão de Reportagem Especial (2011), entre outros e trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo.

Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré, Open Society Foundations, Panda Books, Propeg, Textual e UNESCO.

Luis Fernando Bovo, do Estadão, e Luciane Aquino, do Terra, abordaram a produção de notícias para a internet

Fotos: Rodrigo Gomes

Por Yahell Luci Lima (4º ano/ Faculdades Rio Branco)

Na manhã deste sábado (14), durante o 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo promovido pela Abraji, o editor executivo de conteúdos digitais de O Estado de S. Paulo, Luis Fernando Bovo, e a gerente de produtos do portal Terra, Luciane Aquino, falaram sobre a produção de notícias para a internet.

Em 2012, o Terra pretende cobrir as eleições de todas as capitais e cidades importantes do interior do Brasil, trazendo informações sobre os candidatos e a apuração dos votos de todos os municípios brasileiros. Luciane destaca que além de repórteres-carrapatos acompanhando os candidatos e das matérias produzidas pela redação, é importante garantir que o portal também forneça informações básicas que sejam úteis para o usuário, como o calendário eleitoral, instruções de como agir em caso da perda do título eleitoral e o que significa votar em branco, entre outras.

Bovo, do Estadão.com: audiência no dia das eleições será recorde

Bovo avalia que a audiência do portal Estadão durante o período pré-eleitoral não alcançará a audiência do site no dia da eleição. “Isso acontece porque as pessoas buscam a internet para se informar no dia das eleições”, ressaltou.

Luciane informa que o Terra apostará na produção de conteúdo para celular no período eleitoral. Ela estima que mais da metade do consumo das informações sobre os candidatos e a apuração dos votos acontecerá por meio do aparelho. “Hoje, os usuários têm a possibilidade de checar essas informações enquanto se encaminham para a zona eleitoral”, destaca.

Luciane relata que atualmente o Terra produz mais de 200 vídeos por mês, o que dá uma média de quase sete vídeos por dia, sendo que mais da metade deles é de conteúdo jornalístico. Ela considera que essa dinâmica deve ser incorporada pelos portais. “Se a vida funciona em tempo real, os portais têm obrigação de funcionar em tempo real”.

De acordo com Luciana, o portal Terra conta com uma audiência de 104 milhões de acessos mensais e está presente em 19 países da América Latina, além da Espanha, onde iniciou suas atividades no final de junho. Por conta desses números expressivos, Luciane considera que o portal está encontrando dificuldades para fazer a cobertura de eventos no Brasil, já que a Globo, segundo ela, “tem dificultado bastante a compra de direitos, mesmo que seja para não transmitir”.

Bovo informa que o portal do Estadão tem uma audiência que varia entre 26 e 30 milhões de visitantes únicos por mês, enquanto o jornal conta com 300 mil assinantes. Ainda assim, segundo ele, há uma preocupação por parte de alguns de preservar a notícia para a divulgação no jornal, o que ele considera um esforço em vão. “Os principais furos jornalísticos são dados na internet, não adianta o jornal querer guardar ou segurar a notícia”. O editor também considera que existe uma visão equivocada de que a internet só aceitaria textos curtos. Ele ressalta que o meio também aceita textos longos e analíticos e observa que toda a produção de conteúdos do portal Estadão é feita pelos repórteres que trabalham no jornal.

Cobertura de Eleições em Tempo Real
Palestrantes: Luis Fernando Bovo e Luciane Aquino
Data: 14/07/12 – 9h