Foto: Leandro Melito
Olívia Freitas (3º ano/ Universidade São Judas Tadeu)
A cobertura policial foi pauta da palestra ministrada pelos jornalistas Bruno Lupion, do jornal O Estado de S. Paulo, e Cecília Olliveira, editora do blog Arma Branca, na sexta-feira, 13 de julho, no 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. A relação entre jornalistas e policiais, a postura ética e a dura realidade da cobertura de trauma, que envolve crimes e grandes acidentes, foram debatidas.
A rotina de Lupion, contou ele, começava todos os dias às 0h na redação do Estadão acompanhando o rádio da PM. Após um ano de cobertura, o repórter registrou no seu blog “Olhos da Noite” um balanço sobre as ocorrências que acompanhou neste período: entre 2010 e 2011 foram 214 mortes, entre homicídios, acidentes, suicídios e afogamentos, média de uma morte por madrugada. “É triste, é difícil. Mas o jornalismo tem a função pública e precisa continuar”, afirmou.
O repórter listou alguns pontos que considera chaves para a cobertura policial: boa alimentação; laços de amizade com a concorrência; conversa aberta com o editor e com a equipe de rua.
Já Cecília Olliveira acredita que o jornalista vai criando o ambiente e o relacionamento de trabalho. Ela formou uma rede de contatos, composta por Policiais Militares por meio do Twitter. “Demonstrando-se confiável, a fonte vai dando informação”, diz.
Cecília trouxe a realidade jornalística policial carioca para o debate. Para ela, parte dos jornalistas age como promotores: apontam e condenam os acusados, afirmando-os como culpados por um crime sequer julgado. “Só no julgamento é possível ‘denominar’ o acusado. O repórter pode prejudicar ou acabar com a vida de alguém”, ressaltou, “manchetes que julgam é exatamente o que o jornalismo não deve fazer.”
Cecília questionou a posição da imprensa carioca. Segundo a jornalista, os profissionais da comunicação não contestam o posicionamento dos policiais, que entram nas favelas sem mandato judicial. Ela também citou as execuções, que se tornaram fato corriqueiro. De acordo com o Ministério Público, o Rio deixou de esclarecer 60 mil homicídios, sendo que 24 mil deles sequer foram identificados. “Estamos matando mais do que país em guerra”, afirma.
Os jornalistas, durante a palestra, colocaram em cheque o atual jornalismo policial de TV. “Muitos programas não somam. Estamos regredindo? Devemos tratar esses casos com jornalismo de profundidade”, questionou Cecília. “Jornalista não deve agradar os PMs. O limite é ética dos profissionais. O jornalista não pode se fazer de policial”, afirmou Lupion.
Bruno Lupion completa que, no dia a dia, facilmente se depara com abusos da mídia e da polícia. “Parte da imprensa pede para os policiais explorem os bandidos, e eles fazem, sabem que essa imagem vai ser boa para ambos. Essa não é a função do jornalismo.”
Cobertura Policial
Palestrante: Bruno Lupion e Cecília Olliveira
Data: 13 de julho, 14h
Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidosem São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré, Open Society Foundations, Panda Books, Propeg, Textual e UNESCO.