Fotos: Leandro Melito
Por Fernanda Lima (4º ano / Anhembi-Morumbi)
“Uma história emocionante, daquelas que nos faz sentir que estamos na profissão certa”, afirmou a estudante de jornalismo Mônica Castro, que não conseguiu esconder a felicidade ao sair da palestra 1000 vidas, apresentada por Victor Uchôa e Juan Torres. A dupla de jornalistas do jornal Correio, de Salvador, esteve presente no 7º Congresso de Jornalismo Investigativo, contando como foi o processo de produção da grande reportagem que chegou a ser finalista da 56ª edição do Prêmio Esso de Jornalismo.
Segundo a dupla, o projeto começou em janeiro do ano passado, quando em um único final de semana foram registrados 30 homicídios. A capa do Correio do dia seguinte noticiou: “A capital da violência”. Alguns dias depois, a polícia decidiu não falar mais com a imprensa, muito menos divulgar as informações que eram de domínio público. “Eles se fecharam em uma bolha de informação. Demos a capa do dia 18 como ‘Crime, que crime?’”, lembrou Juan Torres.
A Secretaria de Segurança Pública decidiu, então, divulgar os boletins de ocorrência online, em um sistema que tanto a imprensa quanto os cidadãos poderiam acessar. Foi a partir dos boletins que a dupla teve a ideia de usar os dados para subsidiar algumas matérias.
O número de homicídios não parava de crescer, e eles criaram um gancho: esperar a milésima morte, escolhida como símbolo para a reportagem. A dupla se programou e dividiu a série em cinco dias, em que o objetivo do primeiro era apresentar um perfil da vítima.
Juan Torres: “É um desafio mostrar os números de forma interessante, humanizá-los. Números normalmente são enfadonhos.”Para fazer a primeira matéria da série, os jornalistas acompanharam a morte de Wesley Morais Oliveira, o morto número 1.000. “Fomos à casa da família, conversamos com os colegas de escola dele e seguimos até o local onde seria enterrado. Ao chegar, deparamos com o corpo jogado em uma vala, esquecido e com as moscas voando sobre ele. Logo em seguida, o irmão do Ueslei chegou, tirou a camiseta e começou a espantar as moscas.”
Eles apresentaram os números aos leitores, com textos misturados a infográficos minuciosos. “É um desafio mostrar os números de forma interessante, humanizá-los. Números normalmente são enfadonhos”, afirmou Juan Torres, que contextualizou historicamente os homicídios, comparando-os aos de 2008 e 2010.
No terceiro dia, a ideia era fazer uma crônica sobre o bairro Paripe, o mais violento de Salvador. No penúltimo dia, os repórteres apresentaram os autos de resistência da Segurança Pública. O quinto e ultimo dia ainda não havia sido planejado.
Então, a dupla foi procurar pessoas que deveriam estar na lista de mortos, mas que por algum motivo conseguiram se salvar. “Tentamos não tornar a matéria sensacionalista, caindo no piegas e no dramalhão. Quisemos contar a história de uma forma diferenciada”, disse Uchôa.
Torres e Uchôa afirmam que durante toda a produção da reportagem não tiveram tempo para outra atividade. Passavam os fins de semana em casa, coletando e checando dados. “Mas valeu a pena e deixou, sem dúvida, uma grande lição: nós não podemos ser o obstáculo da nossa pauta”, afirmou.
1000 vidas
Palestrantes: Juan Torres e Victor Uchôa
Data: 13/07/12 – 11h
Sobre o Congresso
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio/apoio da TV Globo, Correio Braziliense, Embraer, Estadão, Folha, Gol, Grupo Bandeirantes, Shopping Iguatemi, McDonalds®, O Globo, Oi, Tam e UOL, e cooperação de Associação Nacional de Jornais, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Jornalistas & Cia., Knight Center, Lincoln Institute of Land Policy, Oboré, Open Society Foundations, Panda Books, Propeg, Textual e UNESCO.